A HISTÓRIA DO PENTECOSTALISMO NO BRASIL ATRAVÉS DA ASSEMBLÉIA DE DEUS

Centenário do Movimento Pentecostal

Sergyo A. Ribeiro Schelling

 

Alguém comentou certa vez, o PENTECOSTALISMO é um movimento à procura de uma teologia, como se não estivesse ele radicado à interpretação bíblica é a doutrina cristã. As pesquisas sobre o desenvolvimento histórico e teológico das crenças pentecostais têm revelado, contudo uma tradição teológica bem elaborada. O Pentecostalismo conquanto possua muita coisa em comum com as outras denominações evangélicas, apresenta um vívido testemunho da obra do Espírito Santo na vida e na missão da Igreja[1]. Para entendermos com profundidade a doutrina pentecostal, se fazem necessário entender de principio os conceitos denominados de pentecostal; ou pentecostalismo. Com relação ao termo pentecostalismo, ele é originário de Pentecostes festa comemorado pelos cristãos 50 dias após a Páscoa em comemoração à descida do Espírito Santo sobre os apóstolos. No que diz respeito a nossa concepção, compreendemos por pentecostais aqueles religiosos que dão ênfase ao “... batismo do Espírito Santo, que se manifesta na vida do crente através de uma mudança de orientação pessoal (santificação) e mais concretamente pela capacidade de falar em línguas estranhas glossolalia[2]. Conforme  o relato  do texto bíblico de Atos 2: 1-4, segundo tal narrativa, cerca de 120 cristãos que estava reunido na cidade de Jerusalém, teriam praticado a Glossolalia. Esse episódio é lembrado como Pentecostes, por ter ocorrido no dia em que celebravam a festa judaica que trazia esse nome em alusão aos cinqüenta dias que separavam da Páscoa. Daí a atribuição do nome pentecostalismo[3]. Berger complementa dizendo que esses combinam “.ortodoxia bíblica e uma moralidade rigorosa com uma forma extática de culto e uma ênfase na cura espiritual[4].” Compreendermos que as origens históricas do pentecostalismo envolve o considerável  o avivamento metodista do século XVIII nos Estados Unidos[5].

                                   

                                      Com a chegada do reavivamento no fim do século XVII é inicio do século XVIII na Europa e na América do Norte, os pregadores calvinistas, luteranos e arminianos passarem a enfatizar o arrependimento e a piedade na vida cristã. Qualquer estudo do Pentecostalismo tem de se a ter aos eventos desse período, especialmente à doutrina da perfeição cristã ensinada por  João Weley o pai do Metodismo e pelo seu assistente João Fletcher. A publicação por Wesley de A Short Account of Chistian Perfection (1760) conclama seus seguiores a buscarem uma nova dimensão espirtual. Essa Segunda obra da graça, posterior  à conversão  libertaria os crentes de sua natureza moral imperfeita, que os tem induzido ao comportamento pecaminoso. [6]

 

No que diz respeito ao Metodismo, esse fora desenvolvido por este ex-pastor anglicano chamado John Wesley no século XVIII que considerava a salvação como um processo e não como algo já estabelecido e decidido como pensava os calvinistas em sua doutrina da predestinação. Para John Wesley é importante considerar a justificação “da fé na salvação, isto é, da convicção de ter-se remido assim como do sentimento de arrependimento, o que conduz à conversão” [7]. Além disso,  ele também considerava importante a santificação, “que é o processo de salvação e a manifestação do Espírito Santo”[8]. Dessa forma John Wesley segundo Corten, “insiste na imediaticidade da salvação, atualização operada pelo Espírito Santo’’[9]/[10]. Essa doutrina  chegou à América do Norte  e inspirou o movimento de Santidade. Influenciou os cristãos a viver uma vida santificada, mas sem mencionar o falar em outras línguas. Aos que procuravam receber a “Segunda  benção era ensinado que cada cristão tinha que esperar (Lc 24: 49) pela promessa do batismo com o Espirito Santo. A crença numa segunda obra não ficou confinada ao circulo metodista, segundo Stanley.

                                    

                                      Embora a teologia reformada haja identificado o batismo no Espírito  com a conversão, alguns reavivalistas, dentro dessa tradição, aceitavam o conceito  de uma  segunda  obra  da graça  para revestir  de poder, acreditavam no conceito de uma segunda  obra  da graça para revestir  os cristãos no poder  do alto. Entre eles se encontrava  Dwight L. Moody e R.A Torrey. Apesar desse revestimento de poder  acreditavam  na santificação, mantinha-se em sua obra  progressivo outro personagem chave e o presbiteriano, A B.Simpsom, fundador da Aliança Cristã e Missionária, cuja forma de pensar teve grande impacto na formação doutrinarias das Assembléia de Deus, enfatizava nitidamente o batismo no Espirito Santo.[11]

 

Vale destacar também que no século XVII o movimento puritano “Qualquer” na Inglaterra, apresentou traços semelhantes  aos que descrevemos anteriormente. “Jorge Fox ( 1642- 1691) líder deste seguimento cristão, passou a pregar, a partir  de 1647  que “o Espirito  Santo de Deus não fala somente pelas as escrituras”, mas que também o faz diretamente através daqueles que “interiormente são iluminados”. Afirma ainda que fosse preciso rejeitar o ministério profissional dos clérigos”[12]. Este tipo de pregação utilizada nos avivamentos desse período adaptou-se  à sociedade norte-americana, cujo avanço dependia das aspirações  e do desempenho dos pioneiros imigrantes que começavam vida nova em nova terra. Nisto o avivamento diferenciava-se  do calvinismo tradicional, que tinha em sua doutrina a questão  da incapacidade humana  e da soberania total de Deus, com certo elitismo que  chocava  com o pensamento popular. “O protestantismo norte-americano foi marcado pelo voluntárismo, o avivamento de forma geral pregava  “que “ todos poderiam estar sobre a graça de Deus”. Enquanto o calvinismo tradicional considerava a graça acessível apenas para os escolhidos, com reflexos na vida secular[13]. O pentecostalismo tendo origem nas doutrinas  de Jonh Wesley, o qual acreditava que o homem devia após a justificação dedicar-se à santificação.

Desta doutrina apropriaram  evangelistas  e teólogos  que faziam parte do movimento de santificação (holiness), surgido nos EUA, em meados do século XIX. Segundo Campos, “Este movimento separou-se dos metodistas carismáticos, distinguidos conversão e santificação  e denominando esta ultima de “batismo no Espirito Santo”[14][17]. Campos enfatiza:  . Entre 1880 à 1923 surgiram cerca de duzentas denominações  (grupos de orações ) nos EUA. Assim forão surgindo os primeiros movimentos um deles, Ricgard G. Sperling, pastor batista licenciado, promoveu reuniões na Carolina do Norte, marcada por intensa glossolalia[15] (Falar em línguas estranhas). Mas foi Charles Fox Parham, “evangelista metodista dos movimentos de santidade”[16]  quem realmente aprofundou a discussão em torno do batismo do Espirito Santo. “Convencido pelos seus próprios estudos de Atos dos Apóstolos  e influenciado por Irwin Sandford, testemunhou Parham um reavivamento notável na escola Bethel  Topeka Kansas, em janeiro de 1901”

              

                                        Parham propôs aos seus alunos a seguinte questão: Existe uma evidencia bíblica  para o batismo do Espírito Santo?  Após um tempo de pesquisa na bíblia, os estudantes chegaram à conclusão de que  a glossolalia  era o sinal que procuravam. Se havia tal evidência na bíblia faltava uma experiência em que alguém falasse as novas línguas. Esse fato ocorreu na passagem de ano de 1901. Durante uma vigília, Agnes Ozman ( uma das alunas de Parham ) sentiu a necessidade de receber as preces e imposição de mãos, com a oração, Agnez falou em outras línguas, era o começo do pentecostalismo nos EUA. [18]

 

Em  1905  Parham criou a escola bíblica de Houston no estado do Texas. Dentre seus alunos estava W.J. Seymour que era um pregador negro procedente de Holiness. Convencido  de que a glossolalia  sinalizava  o batismo do Espirito Santo, Seymor  passou  a destacar esta experiência em suas pregações. Quando foi para Los Angeles, falou em uma igreja dos nazarenos, mas acabou proibido de continuar suas exposições, mas devido a insistência com que tratava  a nova doutrina  e o escândalos aos olhos dos protestantes conversadores. Seymour passou a realizar as reuniões em uma casa, no dia 06 de abril de 1906 oito pessoas entre elas  um menino foram batizada com o Espírito Santo e falaram novas línguas. Seymour se se transferiu  para um velho templo metodista  na rua Azuza, onde por três anos  sucederam reuniões  dia e noite, segundo Stanley.

                                     

                                      Topeka contribuiu para o reavivamento  da Rua Azuza em Los Angeles, as noticias das chuvas serôdias (Jl 2.23) espalharam-se rapidamente por outros países através  do jornal  de Seymour  Apostolic Faith, mediante os esforços dos que saíram  das reuniões da Rua Azuza às várias partes da América  do Norte e ao estrangeiro. Embora ocorrido outros avivamento reavivamento pentecostais importantes, a complexidade e a importância do reavivamento de Los Angeles continua a ser um desafio aos historiadores.[19]

 

As reuniões organizadas por Seymour na Rua Azuza  em Los Angeles era freqüentadas por  evangélicos em sua maioria negros  os cultos tinham manifestações como os cânticos alegres  e informais,  as orações em alta voz, simultâneas. A imprensa norte-americana taxou a experiência de africanização da cultura americana. Além disso,  o surgimento do pentecostalismo nos Estados Unidos envolve alguns elementos de conflitos raciais daquela sociedade. Segundo Rolim, o grupo no qual se manifestara o batismo no Espírito Santo era constituído, em sua maioria, por evangélicos negros no qual se associaram posteriormente  evangélicos de cor branca. E isso tudo tinha um significado importante uma vez que “um novo Pentecostes, proclamava-se, descia sobre um velho templo metodista abandonado e fazia pensar que daí por diante iria realizar-se uma comunhão étnica ”. Porém, segundo o mesmo autor, tanto os negros quanto os brancos, interpretaram esse fenômeno de formas diferentes e conflitantes[20]. Segundo Rolim. Na alma do pentecostal negro alojaram-se e permaneceram duas experiências estreitamente abraçadas: uma que então nascido do Espírito Santo; outra, mais antiga, a luta político-racial. Para ele, Cristo tomou uma nova face. Ficou sendo o Cristo negro, libertador da raça negra, oprimida na América e em outros países.  Já para os brancos, “... ficou apenas a experiência da oração e dos cultos. A de feitio sócio-político não se pode dizer que tenha desabrochado. Este é um aspecto que não pode passar em silêncio”[21]. E isso se confirmou quando, a partir de 1908  os pentecostais brancos começaram a se afastar de seus irmãos negros e constituíram a igreja Assembléia de Deus. Segundo Freston, “os brancos que haviam recebido a ordenação na Igreja de Deus em Cristo (predominantemente negra) saíram para fundar a Assembléia de Deus (quase exclusivamente branca) em 1914[22].”

Assim  segundo Freston, o movimento pentecostal que fora concebido inicialmente como uma renovação das igrejas cristãs existentes no momento não renovou como pretendia: começou-se a formar grupos religiosos independentes que iriam se afastando dos demais tanto por motivos doutrinários quanto raciais. No Brasil, fora a vertente pentecostal branca que iniciou suas atividades no começo do século XX. Segundo Rolim, “a religião pentecostal que se implantou no Brasil é um rebento daquela experiência pentecostal dos americanos de cor branca, o que vale dizer, explicitamente, que foi um pentecostalismo todo voltado para o sacral à semente lançada em solo brasileiro. E esse aspecto não tem apenas significado histórico-ilustrativo. Teve  de fato  implicações nas igrejas e práticas pentecostais brasileiras” [23]

 Após um movimento de disseminação do pentecostalismo  no período de 1901 a 1906, teve origem à Assembléia de Deus  que se organizou em 1919. Nas reuniões da Rua Azuza  de Seymour   um pastor Batista chamado de W.H Durham  passou a crer  no batismo com o Espirito Santo. Sendo assim desta igreja batista do pastor W.H Durham, surgiu sueco chamado Daniel Berg  o qual ajudou Gunnar Vigrem, na fundação da Assembléia de Deus do Brasil em Belém do Pará. A igreja Evangélica  Assembléia de Deus também tem suas raízes fincadas do movimento pentecostal de Los Angeles. No Brasil, foi oficialmente estabelecida em 1911, em Belém-PA por este dois pentecostais sueco-americanos que atribuíam suas motivações missionarias ás revelações recebida “diretamente de Deus” escreve o próprio Vigrem que quando estavam nos Estados Unidos.

 

                                      Num  dia, no verão Deus pôs no coração que deveríamos nos reunir num sábado à noite  para oração. Quando orávamos, o Espirito do Senhor  veio de uma forma poderosa sobre nós (...). Um irmão, Adolfo Ulldin, recebeu pelo o Espirito Santo palavras maravilhosas  e mistérios  escondidos, que foram revelados. Entre muitas coisas, o Espirito Santo falou pôr meio deste irmão que nós deveríamos ir a um lugar   chamado  “Pará”, onde o povo a quem testificaríamos de Jesus era de um nível social muito simples. Nós iríamos ensinar-lhes os primeiros rudimentos do Senhor. Também  escutamos pelo o Espirito  Santo  a linguagem daquele povo o idioma português (...).Nenhum dos presentes conhecia tal lugar. Após a oração, fomos a uma livraria a fim de consultar um mapa  que nos mostrasse onde estava localizado o Pará. Descobrimos então que se tratava de um Estado no Norte do Brasil. A chamado divino então estava confirmada (...) [24]

 

 Segundo  análise de Campos entende-se que o pentecostalismo brasileiro  iniciante teve as suas bases restritas a Assembléia de Deus. Mas após 1910  este fenômeno  não parou de crescer vindo a surgir várias ramificações deste movimento. Como Igreja do Evangelho Quadrangular  fundada por uma canadense por nome  Aimmé Simple  Mcpherson  na cidade de Los Angeles. Outro movimento pentecostal foi fundado do Luigi Francesco   italiano nascido  na cidade de Nuovo, da província de Udine  em 1866, o qual por influencias dos Valdenses, e do pastor  W.H Duham, obteve um projeção no cenário pentecostal,  vindo a fundar a Igreja denominada Congregação  Cristão do Brasil. Sobre o pentecostalismo em terra Latino América, mais precisamente o Brasil,  Luigi Francescom, Daniel Berg, Gunann Vigrem, são o precursores  do pentecostalismo no Brasil. Dados mais profundos como fundação, iniciam organização, sistema de culto e doutrinas. Campos  trabalha mais detalhado no livro “Pentecostalismo”. Não existem tantas informações sobre a Congregação Crista no Brasil, os registros sobre a origem deste movimento  não foram divulgados, o que difere sobremaneira de outros segmentos pentecostais, como o caso da Assembléia de Deus, que procura divulgar suas atividades no Brasil através de arquivos e jornais internos.

E uma das primeiras atividades dos pentecostais brancos norte-americanos no Brasil foi fundar a igreja Assembléia de Deus com o trabalho de missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, vindos dos Estados Unidos. Isso , portanto, já nos permite pensar que os primeiros movimentos do pentecostalismo no Brasil foram de caráter missionário, pois não foi um movimento autóctone, como ocorreu no Chile, e ao mesmo tempo, visava mais o sacral do que o social e o político. Rolim destaca que os dois missionários suecos preocupavam-se com a realização de vigílias de oração as quais eram acompanhadas por cânticos e leituras da Bíblia. Essa tendência missionária distingue o pentecostalismo do protestantismo histórico, o qual chegou ao país no século XIX através do processo de imigração européia. A esse movimento Freston denomina-se “protestantismo de migração” [25]

A partir da formação da igreja Assembléia de Deus e também da Congregação Cristã no Brasil, outra denominação pentecostal que iniciou suas atividades no país na década de 1910, também por um imigrante vindo dos Estados Unidos, o italiano Luigi Francescon, outras denominações pentecostais imigraram ao Brasil e, algumas, se formaram aqui mesmo. Para compreendermos melhor esse processo consideramos pertinente recorrermos a Freston o qual fora o primeiro a dividir o pentecostalismo brasileiro em três ondas de implantação de igrejas, a partir de um corte histórico-institucional.

A primeira onda refere-se à década de 1910 na qual se instalaram no país a Congregação Cristã no Brasil (1910) e a igreja Assembléia de Deus (1911). Ambas possuem um longo tempo de atuação quase que exclusivo, 40 anos, uma vez que outras igrejas vindas do exterior como a Igreja de Deus ou a Igreja de Cristo (um cisma da igreja Assembléia de Deus) não possuíam muita expressão na sociedade de então. Em termos de localização geográfica, a Congregação Cristã no Brasil instalou-se em São Paulo, mais precisamente no bairro operário do Brás, onde o italiano Luigi Francescon pretendia converter seus conterrâneos operários para sua denominação. A igreja Assembléia de Deus se instalou em Belém, no Pará, se expandindo rapidamente pelos estados da região norte do país. Nesses o protestantismo chegou a se reduzir a essa denominação. Segundo Freston “a igreja Assembléia de Deus firmou-se  nas primeiras décadas  nas áreas de saída do futuro fluxo migratório”[26].

Alguns aspectos  caracterizam o movimento pentecostal e estão presentes em muitas denominações que vieram em seguida: 1. A importância dada à revelação direta do Espírito Santo, que consistiria em graças concedidas às pessoas para entenderem as verdades e os mistérios da fé contidos nas Escrituras; 2. A prática de batizar somente adultos; 3. A crença numa iminente segunda vinda de Cristo; 4. Um rigor moral que proíbe o que pode parecer fútil e mundano, como beber, fumar, dançar, assistir à televisão e, sobretudo para as mulheres, a frivolidade no vestir, no corte dos cabelos, o uso de calças compridas, etc; 5. Grande facilidade em interpretar como avisos ou revelações divinas certos acontecimentos da vida; 6. Visão das doenças como punições divinas pelo pecado. Não que Deus envie diretamente a doença, mas permite que o diabo a cause como castigo para o crente. 7. A freqüente presença de Satanás e, como cura, a prática do exorcismo.

             Estatísticas recentes dizem que 70% dos protestantes do Brasil pertencem a denominações ligadas ao pentecostalismo e o número de seus adeptos continua crescendo. Calcula-se que os membros de todas as denominações pentecostais do mundo chegam a 250 milhões, com maior incidência com maior tendência no Terceiro mundo.

             Explicações desse extraordinário crescimento são complexas. Elas podem ser: 1. De ordem sociológica: Vivemos numa época de transição, de uma sociedade agrária, tradicional e autoritária, para uma sociedade urbana e, portanto, industrial, moderna e democrática. Para alguns autores, a adesão a uma comunidade pentecostal representaria a recusa dessa urbanização forçada por parte de pessoas que acabam de deixar o campo e se sentem confusas. Elas optariam assim pela segurança que uma religião autoritária, como são as pentecostais em geral, lhes garante. Um gesto, portanto, de afirmação pessoal, uma escolha democrática contra um sistema tradicional imposto, rígido, como era o estilo de vida da cultura camponesa. Os dois motivos, que tentam explicar uma mesma situação, parecem contraditórios. Talvez o primeiro sirva para explicar a adesão ao pentecostalismo de algumas pessoas, o segundo de outras.

          2. De ordem psicológica: Sempre tendo como pano de fundo a urbanização e a vida nas grandes metrópoles que massificam e despersonalizam, essas novas religiões oferecem a possibilidade de viver em comunidades menores, onde as pessoas se conhecem, onde é claro o papel de cada um onde o senso de pertença a um grupo é muito forte, o que significa proteção contra o isolamento e as ameaças da grande cidade. Toda pessoa humana precisa de uma comunidade que a escute, lhe de calor humano e ofereça sustento, especialmente nos momentos de crise.

         3. De ordem pastoral: As religiões pentecostais valorizam a dimensão religiosa da cultura popular, a sede de Deus que o povo tem. As práticas religiosas do pentecostalismo estão muito enraizadas na cultura popular e em sua maneira de expressar-se religiosamente. Usando uma linguagem popular, verbal como não-verbal, oferecem a todos a possibilidade de realizar uma experiência de Deus particularmente profunda, onde todos podem sentir-se sujeitos e não simples espectadores. A Igreja Dominante não teria respondido a essa sede de Deus de muitos de seus membros. Isso por muitos motivos: pela escassez de clero e de agentes de pastorais suficientemente preparados, pela falta de um sentido comunitário na estrutura paroquial, pela frieza e pelo formalismo que se nota freqüentemente na liturgia, pelo pouco ardor missionário de seus membros, por uma formação bíblico-catequética, geralmente superficial, de muitos fiéis, pôr uma catequese muitas vezes teórica e desatenta à vida de todos os dias.

              Por fim é bastante notório que o crescimento expressivo do pentecostalismo no Brasil esteja diretamente  relacionado ao processo de urbanização.

 

                                     O pentecostalismo de primeira onda  teve um crescimento vagaroso no Brasil, até o final da Segunda Guerra Mundial, se comparado a explosão dos últimos 45 anos. Naquela época, em 1930, o pais ainda era pouco industrializado e predominantemente rural,  pois somente 25% viviam na cidade. Esse índice subiu respectivamente para 35% em 1950, 68% em 1980 e 75% em 1990. No período de 1930-1945, o Brasil vivE uma ditadura populista e assistiu ao desmantelamento e cooptação dos movimentos  sindicais e populares. O processo migratório interno foi um dos grandes auxílios para expansão do pentecoslatismo.[27]

 

 

O grande  contigentes que aflui à mensagem do pentecostalismo é atraído, dentre outros fatores, pela fraternidade que agrega ali pessoas, dos mais diferentes níveis sociais, e, principalmente  pela oportunidade que lhes e outorgada  de exercer cargos de liderança  através do diferentes  programas desenvolvidos pela denominação. A partir do momento em que o converso torna-se membro pelo rito do “batismo com o Espírito Santo” evidenciado pela Glossolalia  e seguido de diversos dons ou carismas mediante  os quais  se tem as oportunidades de provar que são “vocacionados do Senhor”[28]

                                                                

 

 

 

 

 

Referências Bibliográficas

 

CAMPOS JR, Luiz de Castro, Pentecostalismo: Sentidos da palavra divina. São Paulo”: Ática 1995

HORTON,S.M. Teologia Sistemática : Uma perspectiva pentecostal.Rio de Janeiro: CPAD, 1996

BERGER, Peter. A dessecularização do mundo: uma visão global. Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, Vozes 2001.

CORTEN, André. Os pobres e o Espírito Santo. O pentecostalismo no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1996.

FRESTON, Paul. Breve história do pentecostalismo brasileiro: . Nem anjos nem demônios, Petrópolis: Vozes, 1996

ROLIM, Francisco Cartaxo. Pentecostalismo. Brasil e América Latina. Petrópolis: Vozes, 1995.

SANTA ANA, Júlio de. A prática da autoridade nas igrejas evangélicas. In: Revista de Cultura Vozes. Petrópolis: Vozes, nº 01, p. 117-126, 1991.

SOARES, Maria Antonia Vieira. Religião e integração social: pentecostalismo protestante e camadas populares – o discurso da Igreja Universal do Reino de Deus em Bauru. Araraquara, 2001. Tese (Doutorado em Sociologia) – Faculdade de Ciências e Letras. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP).

PROENÇA L.Wander, Magia, Prosperidade e Messianismo. Londrina: Quatro ventos, 2003

 


[1] Horton M. STANLEY.Teologia Sistematica:Uma perspectiva Pentecostal ,p.11

[2] Júlio Ana SANTA ANA, A prática da autoridade nas igrejas evangélicas ,126.

[3] Wander de llara PROENÇA, Magia, properidade e messianismo, pg.9.

[4] Peter BERGER, A dessecularização do mundo: uma visão global: Religião e Sociedade 09-23

[5] Paul FRESTON, Breve história do pentecostalismo brasileiro: interpretações sociológicas do pentecostalismo, p. 73

[6] Horton M. STANLEY, op .cit., p.12

[7] André CORTEN, Os pobres e o Espírito Santo: O pentecostalismo no Brasil, p. 285.

[8] Ibid.,p.285.

[9] Ibid., p .285.

[10] Jean Carlos Rodrigues Doutorando em Geografia pela UNESP, campus de Presidente Prudente (SP). Pesquisador/ pentecostais.

[11]  Horton M. STANLEY, op .cit., p.12.

[12] Wander L. PROENÇA, op. cit.,p 11.

[13] Ibid., p.19.

[14] Luiz de Castro CAMPOS JR, Pentecostalismo, p.19.

[15] A respeito da Glossolalia  existem diversos estudos realizados  por teólogos, cientistas sociais, psicólogos e professores de lingüistica. Existem correntes entre pentecostais, católicos,  e protestantes que afirmam a possibilidade do Dom das línguas se manifestarem de duas maneiras: através das línguas estrangeiras (frances, inglês, japonas , etc) e línguas cujos sons são indefinidos . 

[16] ‘Wander L. PROENÇA. Op. cit.,.9.

[17]  Horton M. STANLEY, op .cit., p.17.

[18] Luiz de Castro CAMPOS JR, Pentecostalismo , p.27

[19] Horton M. STANLEY, op .cit., p.19.

[20] Cartaxo Francisco ROLIM,  Pentecostalismo: Brasil e América Latina ,p. 23.

[21]Ibid., p.24.

[22]Paul FRESTON, Breve história do pentecostalismo brasileiro, p.75

[23] Cartaxo Francisco ROLIM, op.cit., p 23.

[24] Wander de L.PROENÇA, op. cot., p.15.

[25] Paul FRESTON , op, cit., p.55.

[26] Ibid.,p.60

[27] Wander de L.PROENÇA, op. cot., p.16.

[28]  Wander de L.PROENÇA, op. cot., p.17.

 

 

 

 

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