DESCARTES: SE PENSO; LOGO EXISTO.
SERGIO A. RIBEIRO “Schelling”
O que se pode conceituar nas meditações de Descartes como em toda sua obra, é que ele começa por uma dúvida geral sobre as aparências sensíveis. Através da duvida Descartes tenta remover do caminho preconceitos com a finalidade de estabelecer uma ciência confiável. Por isso a dúvida em suma, é um meio para um fim, não um fim em si. Descartes apresentam que sua única preocupação; e o seu objetivo e o de levantar dúvidas sistemáticas para eliminar a dúvida, e encontrar algo seguro e indubitável. Esta duvida consiste, pois no fundo, em despojar-se dos preconceitos; trata-se, pois; de uma eliminação dos edifícios do saber, não do espírito do homem. Podemos duvidar porque todo o nosso conhecimento é passivo de duvida, pois tais conhecimentos provem dos sentidos; e pode acontecer de enganar. Por está causa é prudente nunca confiar completamente; ou seja; uma vez que já nos enganam. Para Descartes a duvida é útil para distanciar ou destacar o espírito dos sentidos; pois a duvida nasce da experiência do erro; e uma vez que os sentidos nos enganaram; será sempre necessário duvidar.
A relação entre pensamento, dúvida, certeza e idéias nas meditações de Descartes: O que podemos conceituar desta relação; é que para Descartes, todo o conhecimento advém dos sentidos, e que esses sentidos são passiveis de levar aos equívocos; conforme ele mesmo descreve: “ Com efeito, tudo o que admiti até agora como verdadeiro, eu o recebi dos conceitos ou pelos sentidos. Ora, notei que os sentidos ás vezes enganam e é prudente nunca completamente nos que, seja uma vez, nos enganam.”[1]. Descartes através de seu método denominado “ A duvida metódica” decidem conscientemente despojar-se do saber de todas as coisas; por considerá-las toda a inverdade. Através desta decisão de Descartes, de colocar em dúvida todo o saber vigente. Existe um conceito que não pode negar, o qual está explicito; que é o “ “pensamento”; visto que o pensamento é a base, que proporciona a devida condição da existência da duvida. Pois o pensamento precede a duvida; aqui existe uma condição de lógica; porque mesmo que duvido é evidente que penso. Para Descartes isso se configura em uma certeza a qual ele mesmo a intitula de “certeza absoluta”, a qual é identificada como a base do sistema de Descartes; que é: “ Se penso; logo existo”
uma autonomia, uma auto sustentação maior do que o meu pensamento, algo que não pode vir de mim; a qual Descartes a define como “ (...) substância infinita, independente, eterna, imutável, sumamente inteligente e sumamente poderosa (....) [2]. Sobre as idéias imperfeitas Descartes descreve que seria toda a idéia e obra da mente; e conseqüentemente a natureza dessas idéias e tal que ela não exige por si mesma nenhuma outra realidade formal além do que recebe do pensamento ou de minha mente da qual é uma maneira ou efeito de pensar. O que se pode conceituar e que as idéias imperfeitas são como imagens que facilmente podem ser deficientes da perfeição que está nas coisas de que foram tiradas; mas não podem conter algo maior ou mais perfeito do que essas coisas. Diante disso é seguro que há porém, nas idéias imperfeitas uma certa falsidade material, quando elas representam uma coisa, como se coisa fosse; como Descartes define “ (....) uma coisa imperfeita, incompleta e dependente de outra coisa, aspirando indefinidamente a coisas cada vez maiores e melhores (...)[3]
“A conseqüência do desdobramento desta “certeza de pensar” para Descartes, é que existem idéias; idéias a qual Descartes as classifica de duas maneiras “ As idéias perfeitas” e as “ idéias imperfeitas”. As idéias perfeitas são classificadas como as idéias que possui em si mesma
Caracterização do método de pensamento cartesiano. O método cartesiano é acima de tudo pré-indutivo; ou seja, suas formulações não se constroem depois da intuição das coisas; pelo contrário, tem como propósito primeiramente obter a intuição. Por isso Descartes na busca pela intuição ele vai dividir e investigar em partes todos os objetos que permitam duvida, até que uma dessas partes se constitua um objeto claro, evidente. Então já temos a intuição. Ao contrário dos antigos pensadores que partiam da certeza, Descartes parte da “duvida metódica” que põe em duvida todas as supostas certezas. O método cartesiano duvidara de tudo quanto admitisse dúvida, somente as proposições que se permanecem em pé diante deste exame criticam seriam validas. Tal método supunha que o elemento necessário ao conhecimento é a certeza que o homem pode alcançar pondo em duvida todas as proposições que admitem duvidas; e somente quando estas proposições resistissem a estes testes; é que podem ser recebidas como verdade. A duvida; é a possibilidades entre o certo e o errado, podem surgir da preocupação em discutir se os pensamentos correspondem ou não a realidade. Porém a pessoa não pode duvidar da existência de seus próprios pensamentos porque eles se confundem com o próprio ser. É os próprios Descartes que diz “Cogito ergo sum”. Eis a certeza da qual não se pode duvidar; mesmo que queira.
A “ontologia” tem parte neste método; uma vez que Descartes descreve que não se pode colocar em duvida a existência de Deus; afirma a existência do mundo exterior; o qual fazendo uso do “Gênio Maligno” afirma que Deus não haveria de nos enganar, fazendo supor que o mesmo existe, quando na verdade não existe; se assim fosse estaria embasada em uma ilusão firmada na percepção dos sentidos. O método cartesiano também afirma a existência da “alma” como uma realidade pessoal, baseada da realidade divina; através deste conceito de alma, o método cartesiano desenvolve a questão do dualismo (corpo-alma). Podemos assim dizer que a caracterização do método cartesiano se da através da duvida metódica, e do método pré-intuitivo pelo qual ficam estabelecidos três princípios fundamentais do conhecimento: Deus, alma, e a existência do mundo externo.
[1] DESCARTES, René. Discurso do método. pg. 16.
[2] DESCARTES, René. Meditações sobre filosofia primeira. Trad. Fausto Castilho. Campinas: CEMODECOM, 1999. pg, 45.
[3]Ibid, pg. 51